segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Chilique de grávida

Eu sempre fui paciente, ponderada, dificilmente erguia a voz pra alguma coisa ou arrumava briga. Sim, eu já fui uma pessoa muiiiito calma. Pra quê arrumar briga, discutir, questionar? Acreditava nas minhas verdades e isso me bastava. O resto que se dane.
Só que agora eu ando percebendo que tô um pouco chiliquenta.
Antes mesmo de descobrir eu andava meio ansiosa demais, irritada demais, debochada demais. E sem paciência pra gente folgada.
Nessa época, o que começou a me irritar foi que minha casa tinha virado QG dos meus amigos. Todo final de semana a gente se reunia em algum lugar e nos últimos, era sempre na minha casa. Aí eu ficava puta pq lá pelas tantas da madrugada todo mundo ia pro conforto de suas casas limpas e eu ficava com a minha virada do avesso, com lata de cerveja pra td qnto é lado, copos espalhados (alguns até quebrados), bituca de cigarro e etc. Tirando que em toda reunião sempre tem um engraçadinho que fica brincando com rótulos de garrafa. Já perceberam?? Rasga o rótulo inteiro. Aí fica papelzinho picado em todos os cantos.
Outra coisa que me irritava também é que eles vinham para cá e ficavam implicando com a Laila. "Saí daqui, cachorro!" (é cachorra), "Aí, ela fica me lambendo/pulando/encostando em mim!" (óbvio, ela é um cão), "Credo, que fedida!" (ela cheira como todos os da espécie canina) e por aí vai. Aí eu dizia "Amigo lindo, ela mora aqui. Quem é visita é você. Sinto muito." E saía como a grossa, sempre.
Tentava cortar as festinhas, mas meus amigos são folgados mesmo. Com o tempo diminuiu. E hoje em dia só vem quem eu realmente faço questão. Parece que quando a gente vira pai/mãe só sobram os verdadeiros mesmo.
Normalmente os chiliques também acontecem quando a casa tá numa situação que não dá mais pra fechar os olhos e segurar a respiração. Não tem outro jeito, preciso limpar. Eu posso acordar vomitando arco-íris de tanto bom humor. Mas aí eu vejo a casa suja e o tempo fecha. Odeio limpar a casa. Odeio lavar a louça. Odeio serviço doméstico. Odeio, odeio, odeio! Não nasci com o dom natural de ser uma boa dona de casa. Quando casei dei graças a deus que ninguém mais ia ficar me perturbando pra arrumar o quarto ou coisa parecida. Mas descobri que a porcaria da sujeira não se limpa sozinha e me vejo cobrando de mim mesma.
E onde eu moro parece que tem uma terra vermelha que pensei que só existesse na Nova Guiné. A cachorra sai no jardim e quando volta pra dentro (imunda), faz questão de se chacoalhar e se esfregar no sofá, ou no tapete, ou em qualquer lugar que ela possa se limpar. E a desgramada não pode me ver com uma vassoura ou um rodo na mão que acha que os utensílios estão brincando de pega-pega com ela.
Marido até me ajuda nessas horas. Mas não adianta. Esse tipo de tarefa tem que ser executada pela Amélia Mãe, pois corre o risco de não ser tão bem executada por ele e desencadear mais um tsunami de chilique.
E depois que a casa tá limpa, cheirando a produto de limpeza (e não a bufa de cachorro) e minha lombar tá cheia de nós, a Dona Neura vai embora. Só que aí eu começo a implicar com cada micróbio que entra porta adentro sem limpar os pés. E eu não tô nem aí se é o Luciano Huck que veio gravar Lar doce lar na minha casa, se não limpar os pés ou entrar descalço vai gravar programa na casa do baralho.
Essa semana percebi que um colega de trabalho meu não anda mais falando comigo. E é um dos mais próximos, sempre nos demos bem, somos amigos fora do expediente também. Só que ele andava meio seco, só respondia o que eu perguntava (e olhe lá) e nunca mais me pediu ajuda com nada. E ele sempre pedia, porque a gente dava uma enrolada no serviço e ficava batendo altos papos (que minha chefe não leia o blog, por favor!). Aì ontem mandei a real pra ele. Perguntei porque ele estava arredio, não falava mais comigo, se eu tinha feito alguma coisa. Ele me olhou meio desconfiado, com os olhos apertados... E perguntou se eu realmente queria saber e se eu estava de bom humor. Resumindo: ele disse que eu tô ensandecida, que nunca sabe o que falar, que ele tem a sensação de pisar em ovos sempre que eu tô por perto. Que eu tô estúpida e não sou mais a mesma de antes.
Peralá! Eu?? Mas eu sou tão legal. Você que é um folgado que não pode fazer nada sozinho e fica nas costas dos outros e blá blá blá. Aí eu percebi que realmente eu tenho passado um pouco da medida e me desculpei. Ninguém tem culpa se eu tô formando um sistema nervoso inteiro e complexo dentro do meu útero. Tenho que me controlar. Tenho que me controlar. Tenho que me controlar. E tenho que repetir esse mantra na cabeça o dia inteiro, e depois a noite a hora que chego em casa.
A gravidez é linda, agradável, sublime só que não. E o preço a se pagar é alto também. Você perde alguns amigos, se aproxima mais ainda de outros, passa a ter uma visão diferente das coisas. E tomara que eu não leve uma pancada na cabeça e acorde gostando de Justin Bieber porque é só o que tá faltando acontecer mesmo.

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